23 de out. de 2013

Resenha - “O imprescindível aporte das ciências sociais para o planejamento e a compreensão do Turismo”, de Margarita Barreto.


Resenha do artigo “O imprescindível aporte das ciências sociais para o planejamento e a compreensão do Turismo”, de Margarita Barretto.



BARRETTO, Margarita. O imprescindível aporte das ciências sociais para o planejamento e a compreensão do turismo. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 9, n. 20, p. 15-29, outubro de 2003.

Neste artigo, a autora Margarita Barretto busca respaldo para os estudos sobre o fenômeno do Turismo nas Ciências Sociais e na Antropologia, elencando diversos autores com trabalhos de peso publicados em épocas diversas, todos voltados para a abertura da academia em relação ao fenômeno em crescente expansão.

O Turismo, feito de forma livre, como ainda é hoje, gera mais impacto negativo do que positivo. De ‘forma livre’ entende-se sobre o Turismo de massa, vendido como produto de consumo. Sendo que o lucro imediato é o único objetivo nesse negócio, as demais questões são negligenciadas, especialmente às comunidades receptivas, que tem uma participação ínfima por ser necessária sua mão de obra – geralmente braçal e barata – ou quando seus modos de vida e sua cultura local são expostas como mais uma forma de mero atrativo, nem sempre espontâneo e autêntico, para arrecadar mais turistas e, consequentemente, mais dinheiro, tornando a comunidade em uma espécie de “zoológico cultural”, como descreve a autora ao citar o trabalho de referência de Urbanowicz em seu artigo.

Como demonstra no artigo de Barretto, o Turismo até hoje foi estudado e planejado apenas sob a ótica administrativa e econômica. Por outras Ciências não considerarem o fenômeno como digno de estudos e aprofundamentos, o que ocorre é o direcionamento para a atividade apenas pelo seu lado mercantil e lucrativo. Espaços e estruturas são criados para melhor atender e oferecer ao cliente-turista, porém nem sempre isso é feito de uma forma saudável, sustentável ou mesmo respeitando o meio ambiente, incluindo Natureza e População, ambas englobando todas as características inerentes de cada.

Há a geração de emprego e renda, mas, mais uma vez, nem sempre de forma saudável, organizada, estável. Há mais exploração do que emprego, mais esmola do que renda. Isso no ponto de vista positivo. No negativo, a degradação ambiental e humana pode descer a níveis escatológicos, desde a destruição de uma área de mata virgem para a construção de estruturas que terão uso por uma parcela minúscula da população – e não a local, esta apenas se como mão de obra barata – até a pedofilia em aliciamento de crianças para a prostituição infantil.

Ao expor seu ponto de vista sobre o fenômeno turístico em uma revista científica de Antropologia, Margarita Barretto mostra vários argumentos que validam a sua tese, a da urgente necessidade de se obter maiores estudos e pesquisas sobre o Turismo, uma vez que essa atividade, que se baseia especialmente no movimento de pessoas, logo movimenta o mundo num ir e vir recíproco, literal e figurativamente, precisa de uma atenção especial.

Essa atenção especial por parte de cientistas e estudiosos de áreas diversas – como nas Ciências Sociais e Antropologia – visa trazer o aporte científico necessário para a criação de políticas públicas que regulamentem o Turismo como uma forma de preservação dos patrimônios e bens móveis e imóveis, materiais e imateriais, incentivando práticas saudáveis e justas para obtenção de renda e geração de lucro, evitando a degradação ambiental da Natureza e do Homem, protegendo especialmente as áreas receptivas e sua população local, minimizando o impacto negativo de todas as formas possíveis.

Se o Turismo se tornará uma importante fonte de renda e lucro do Século 21, que este seja feito para trazer e construir o melhor para todos – turistas e locais – que seja feito para preservar, manter e aperfeiçoar, seja pessoas, seja locais, seja culturas. Para isso acontecer, o lucro pela atividade não pode ser o único objetivo.

Concluindo, Margarita Barretto mostra, em seu artigo, a amplidão a ser alcançada pelo Turismo por todas as Ciências, bastando que deem atenção e importância necessárias ao fenômeno que movimenta o mundo e que pode se tornar a chave para o resgate de antigas culturas e expressões folclóricas, para dignidade humana para os menos favorecidos, a preservação dos ambientes a serem desfrutados (jamais consumidos ou explorados) e movimentação financeira sem materialismo, ou pelo menos o excesso, como vivenciamos atualmente no consumo desenfreado – “Se quer ser feliz não compre coisas, viaje!”

Com a Ciência dando seu aporte ao Turismo, políticas públicas de incentivo e regulamentação da atividade, visando inclusive a proteção global das regiões turísticas, poderão ser criadas e tratadas com igual prioridade das necessidades mais básicas, como saúde, infraestrutura, saneamento, segurança e locomoção. Se o produto do Turismo são os lugares, então tudo está interligado. Se é bem conduzido, traz benefícios para todos – visitantes e habitantes... e o inverso ocorre quando há a negligência diante de uma atividade que movimenta tanto matéria quanto pessoas.

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